quinta-feira, 16 de maio de 2013

Museu Afro Brasil:Conheça as atividades educativas

 

Tamanho da fonte: A-A+imagem_evento
Publicada: 13/05/2013

Portal Cenpec destaca programação educativa do Museu Afro Brasil na 11ª Semana de Museus

Foto: Divulgação

De hoje (13) até domingo (19) 1.250 museus e organizações culturais de todo o País oferecem uma programação especial por conta da 11ª Semana de Museus. Proposta pelo Instituto Brasileiro de Museus, a Semana marca a celebração do Dia Internacional de Museus (18 de maio).

Hoje também comemoramos outra data importante na História do País: a abolição da escravidão. Para celebrar os dois eventos, o Portal Cenpec foi conhecer o Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil, instituição que participa das atividades da Semana de Museus.

O Museu Afro Brasil
Situado dentro do Parque do Ibirapuera, o Museu Afro Brasil ocupa o Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, edifício que integra o conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer na década de 1950. Seu acervo conta com mais de 5 mil obras distribuídas pelos 11 mil metros quadrados do prédio. O Museu abriga ainda o Teatro Ruth Rocha e uma Biblioteca com mais de 6800 publicações, que leva o nome da escritora Carolina Maria de Jesus.

O Museu foi fundado em 2004 por iniciativa do artista plástico e ex-diretor da Pinacoteca de São Paulo e atual curador da instituição, Emanoel Araújo. Em 2009, quando o Museu foi incorporado pela Secretaria de Cultura do Estado, Araújo doou 2.163 obras de sua coleção particular para o acervo do museu.

A ideia é que o Museu seja “um espaço de preservação e celebração da cultura, memória e da história do Brasil na perspectiva negro africana” – informa o site da instituição. A reflexão sobre a contribuição dos povos africanos e dos afrodescendentes à cultura brasileira é proposta de diferentes maneiras e a partir de perspectivas muitas vezes impensadas.

São cinco os núcleos que estruturam a exposição de longa duração do Museu: África: Diversidade e Permanências; Trabalho e Escravidão; As Religiões Afrobrasileiras; Festas; O Sagrado e o Profano, História e Memória e Artes Plásticas: a Mão Afrobrasileira. O Núcleo Trabalho e Escravidão, por exemplo, reúne objetos de trabalho, instrumentos de tortura e de castigo dos tempos da escravidão. “O foco é mostrar como o trabalho vai se constituindo, como esses objetos de trabalho são construídos e como o trabalho também se revela como um espaço de resistência”, explica a coordenadora do Núcleo de Educação do Museu, Neide Almeida.

Uma grande instalação com uma carcaça de um navio negreiro ilustra o tipo de embarcação usado para transporte dos escravos . A sala reúne ainda cenas de filmes, poemas que falam desse percurso, quadros e instrumentos de castigo que reforçavam a condição de propriedade dos negros escravizados. “São peças que lembram esse processo perverso de construção de preconceito, de racismo, de submissão e o quanto isso marca a história da sociedade brasileira”, destaca Neide.


Instalação Navio Negreiro (Foto: Divulgação)
Embora esteja presente no acervo do Museu, ela ressalta que a questão da escravidão não é abordada como central no percurso proposto pela curadoria. “Esse elemento é necessário, não tem como deixar de reconhecer que isso deixou uma marca muito forte na nossa história, mas não é tratado como uma coisa central. Não é um museu da escravidão, que vai destacar esse processo da submissão. Pelo contrário, traz elementos dessas outras dimensões”.

Atividades educativas
Para explorar todo o potencial educativo da instituição, o Museu conta com um Núcleo de Educação que dispõe de uma equipe multidisciplinar. No total, são 12 educadores com diferentes formações (Artes, Ciências Sociais, Letras, Psicologia) que se revezam nos períodos da manhã e da tarde, realizando atendimentos de grupos de visitantes de terça a domingo. Há ainda um educador surdo para realização de visitas em libras e um congolês, radicado no Brasil há oito anos e que promove atividades em parceria com os outros monitores. Por mês, o Museu recebe em torno de 10 mil visitantes, sendo que metade desse público é recepcionada pela equipe de educadores.

“Nas visitas, a gente sempre procura partir de uma provocação, uma pergunta, um questionamento; é sempre uma tentativa de que a visita não seja uma aula, mas sim um diálogo mediado pelo acervo”, afirma a coordenadora.

Por conta do grande número de peças e de exposições (atualmente o Museu abriga cinco exposições temporárias e uma de longa duração), não é possível percorrer todo o museu em 1 horas e 15 minutos, tempo de duração das visitas. Diante disso, os educadores concebem roteiros, elegendo algumas obras que consideram mais representativas e/ou a partir dos interesses do grupo, levantados previamente por meio de um questionário no caso das visitas agendadas. “Por exemplo, no Núcleo de Memória e História, o educador pode escolher a escultura do Zumbi e a partir da observação dessa obra ir fazendo os links e apresentando o Núcleo. Ele vai trazendo algumas chaves, algumas possibilidades de compreensão do material que está aqui, já que não tem como explorá-lo todo”, explica Neide.




Festas de origem africana incorporadas à cultura brasileiraVisitas temáticas - O Núcleo de Educação promove ainda visitas temáticas, a partir de datas históricas, “para aprofundar uma determinada questão ou linguagem”, esclarece. Nesse mês de maio, serão realizadas duas visitas temáticas: uma intitulada O mundo do trabalho, antes e depois da Abolição (“mas pensando nessa dimensão mais ampla do trabalho que dialoga com outras manifestações culturais”), em função do dia do trabalho (dia 1º), e outra chamada Vozes da Abolição.

“Nessa última o foco é o Núcleo História e Memória, pensando todo esse movimento que existiu tendo como objetivo a abolição e que muitas vezes é absolutamente invisível, como se fosse de fato um decreto que tivesse marcado esse momento”, reitera.

Oficinas e contações de história também estão entre as atividades educativas desenvolvida pelo Núcleo. “Elas são sempre pensadas em diálogo com as reflexões que vamos propondo: às vezes para experimentar uma determinada técnica, uma determinada linguagem, ou pensar o desdobramento de um determinado conceito”. As sessões de leitura ou de contação de histórias, denominadas “Aos pés de Baobá”, são realizadas todo último sábado do mês, às 11h, com o objetivo de “promover o acesso a essas narrativas ao maior número possível de pessoas e uma reflexão sobre essas histórias como possibilidades de representação de um imaginário que muitas vezes está fora do nosso repertório”.

Atividades de formação
Um outro eixo de atuação do Núcleo é a formação de educadores. “Como a gente não consegue atender a toda a demanda, procuramos contribuir para a formação dos professores para que eles possam também atuar como mediadores. O professor um pouco mais preparado pode apresentar o museu de uma forma mais qualificada para os seus alunos”", pensa a coordenadora. Ela conta que nesse mês de maio as incrições para realização de visitas mediadas pelos educadores do Museu se esgotaram um dia depois de abertas.


Os encontros acontecem aos sábados e os grupos são organizados de acordo com a demanda. Eles incluem sempre uma visita, onde é feito um recorte do acervo, seguida por alguma atividade. No mês passado, por exemplo, foi realizado um encontro cujo foco foi História e Memória. O roteiro realizado pelo educador priorizou esse núcleo; em seguida foi realizada uma atividade na Biblioteca. “A ideia era pensar o professor como pesquisador, capaz de fazer esse mapeamento das diferentes fontes que se pode recorrer para pensar a questão da história e da memória”. Para o próximo semestre, está sendo estudada a possibilidade de se promover um conjunto de encontros, dos quais o professor pode participar integralmente ou escolhendo os temas de seu interesse, compondo uma programação de formação.

O Núcleo também realiza, em parceria com a Fundação Casa, um programa de formação dos agentes pedagógicos que atuam na instituição, sendo uma edição no primeiro semestre e outra no segundo. São seis encontros em período integral, que envolvem visita ao acervo, palestras, oficinas, discussões. “A proposta é pensar como o museu pode contribuir para que eles discutam essas temáticas lá na própria Fundação Casa, promover uma reflexão e trabalhar alguns recursos que eles possam usar no seu cotidiano”, explica.

Aos pés do Baobá - Especial Dia das Crianças 2012 (Foto: Divulgação)

Uma década da Lei 10.639
Neste ano, a Lei 10.639, que determina o ensino nas escolas da história e cultura afrobrasileira, completa 10 anos. E o Museu Afro Brasil desempenha papel importante nesse sentido, na medida em que tem como propósito justamente preservar e difundir esse patrimônio cultural, dando concretude ao que está – e também ao que não está – nos livros.

“Aqui o aluno tem a possibilidade de olhar para uma escultura e ver seus aspectos históricos, sua memória, toda uma produção artística; dá uma outra dimensão para o conhecimento. Não é só ouvir ou ler uma história, é pensar as diferentes possibilidades de materialidade desses acontecimentos”, acredita Neide.

A coordenadora do Núcleo reconhece o papel do Museu no cumprimento da Lei 10.639, mas ressalta que “nenhuma instituição sozinha vai conseguir dar conta [disso]; essa é uma ação que tem que vir de várias direções”. Em sua avaliação, esse deve ser um compromisso de todas as instituições que atuam com a formação de educadores, dando lhes subsídios para ampliação de repertórios e referências. “Temos o grande desafio de garantir que essa discussão esteja presente na pauta de todas as formações”.

“Todas as nossas ações estão imbuídas desse desejo e dessa perspectiva: de que essa questão entre na pauta e se materialize nas ações dos educadores e mediadores”, reforça.


Fabiana Hiromi

Nenhum comentário:

Postar um comentário